27/07/2012

Tempos de Hoje, Tempos de Sempre



A fim de atender à demanda dos tempos atuais, necessitamos fazer com que os verbos precisar e querer sejam conjugados em uma mesma frase, caminhando na mesma direção.

Hoje não cabe mais usarmos produtos que sejam apenas necessários. Estes, além de atrair-nos pela vontade – o querer -, têm que atender à necessidade de cuidar no sentido mais completo do verbo.

Alguém poderia argumentar sobre o que queremos dizer com “tempos atuais”, questionando o que tal expressão traz em seu bojo. Vivemos em uma época em que estamos conscientes de que ser saudável não é somente não estar doente, é um estilo de vida, cuidar da pele, dos cabelos, da alimentação de forma que além de nutrir, nos dê prazer.

Ah… o prazer! As pessoas costumam falar sobre o prazer como artigo de luxo, como utopia, ou mesmo de forma irresponsável em busca dele, sem medir conseqüências. E quando isso acontece, quanto mais buscam e alcançam, mais insatisfeitas ficam, já que têm a sensação de que não era exatamente aquilo que estava faltando.

Quando isto ocorre, uma coisa temos que admitir – estavam corretas – não era mesmo, pois essa busca é por algo muito maior. A fonte do prazer está dentro de cada um e só o indivíduo pode preencher, pois não está do lado de fora em forma de um cosmético, um sapato novo, ou mesmo uma paixão avassaladora. Uma vez resolvido, adquirido ou realizado, volta o vazio.

E ainda há casos em que comprar um sapato belíssimo, mas que está longe de ser confortável, roupas que ficam muito bem, mas que apertam. Esses chamados sacrifícios em nome da “estética padrão” são tão contra o conforto pessoal, que, espero estar certa, quando acredito que estão com os dias contados. Preciso crer que as pessoas estão mais preocupadas com o que é saudável no sentido abrangente da palavra. Acredito nisso, porque voto na busca pelo prazer legítimo e sei que só podemos encontrá-lo quando há conforto no nível emocional.

Pode parecer exagero ou poesia, mas este vazio é de si mesmo. Quantas vezes escutamos as pessoas dizerem que estavam com problemas e foram parar em um shopping e gastaram o que não poderiam gastar e compraram o que não precisavam?

Lembro de minha mãe contar uma es (historia) de uma mulher que estava com um problema de consciência tão grande por haver feito algo que não devia, que resolveu mudar de cidade – fez as malas, pegou um avião e partiu. Quando chegou à outra cidade, o problema ainda estava lá e parecia ter se agravado, a consciência a atormentou de tal maneira que voltou em uma semana, segundo soubemos. Minha mãe comentou rindo: “ora, ela pensou que “problema” não andava de avião. Problemas não precisam de passaporte, nem pagam passagem. Assim ela terá que enfrentá-los e resolver as coisas de forma íntegra.”

E é exatamente isso que eu acho. O shopping, o sapato e a calça nova não têm a solução pronta para nenhum assunto, portanto não preenchem o buraco existencial de ninguém. Quando a pessoa sai do shopping, quem a está esperando do lado de fora? Ah… estão pensando que era o problema ou o vazio? Não, eles estavam lá dentro acompanhando o indivíduo, mas disfarçados de vendedores, de sapatos e bolsas. Quem estava esperando era ela mesma, a Vida real.

Como será a vida real de cada um não depende do limite do seu cartão de crédito, da promoção no trabalho, ou mesmo do telefonema de seu amor. Isso tudo ficará do lado de fora. E a pergunta que não é retórica, mas legítima: o que é real?

Nota: Pegamos vocês! Estavam pensando que iríamos falar apenas de cosméticos?



Valéria Trigueiro

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