23/05/2012

Ser brasileiro



Se eu prestar atenção no mundo e como esse percebe o Brasil, vou sentir a sua presença em todas as partes. Não acho que é porque eu estou sempre buscando uma maneira de matar saudades do país onde eu nasci, mas me convenço cada vez mais que o meu lugar de nascimento exerce uma fascinação no mundo. Chego a declarar sem muito espaço para equívocos que o mundo quer ser brasileiro. Brasil é sinônimo de lugar classudo e rebelde, de pessoas inteligentes e bonitas, de pessoas curiosas que sabem relaxar. A presença da musica brasileira se faz em todas as partes; outro dia estavam tocando nas três diferentes lojas onde eu entrei na glamorosa Manhattan. As pessoas comentavam sobre beleza do idioma e falavam do ícone Gisele que estava na capa da Vanity Fair. Outros comentam sobre os poderes do açaí e perguntam onde se compra guaraná e pão de queijo. Mas, que lugar é esse que misturou as pessoas mais diferentes e resultou em algo desejável. O desejável, no entanto, foge do escopo de nacionalidade para se tornar estado de espírito. O estado emocional ideal ri mostrando os dentes e ainda é elegante e fala alto sem ser inconveniente. Caso seja inconveniente, ele vai sorrir de maneira espontânea e o outro vai se derreter. Em poucos minutos de conversa, o brasileiro montou uma tenda e acolheu a outra parte no seu teto. Sua mão esta sempre quente e quando fala, você é a pessoa mais importante do mundo. Ele sabe se defender com qualquer tema e mesmo não sendo um expert em política ou economia, ele lê o jornal para se manter informado e está sempre interessado em se conectar mais com o mundo para abraçar a parte que lhe cabe. O brasileiro não e tímido, mas antes de desfrutar da parte que lhe corresponde, ele vai observar, vai sentir o território para não tirar vantagem e não invadir a parte alheia. Seu idioma nativo é brasileiro antes de ser português; ele fala com todo o corpo e anda agradecendo as coisas boas que acontecem na sua vida. Ele da crédito a uma força que não necessariamente precisa ser vista. O brasileiro conhece um pouco de geografia para poder achar graça dos gringos que acham que a capital do Brasil é Buenos Aires e a sua memória musical é invejável pois ele lembra as letras das cantigas de infância. No entanto, um dia ou outro, a gente acaba se deparando com o individuo que nasceu em território brasileiro e foi grosso com o garçom que trouxe o prato errado ou que se achou melhor por ter mais dinheiro, ou melhor, posição social. Esse está correndo o risco de perder o seu passaporte e ser deportado do Brasil para não interferir com a boa impressão que o mundo tem do lugar. Quando se observa de longe o que fica mais claro é o verde e o amarelo não necessariamente nessa ordem ou a dança do futebol ou a ginga dos dançarinos ou a poesia do idioma. Para o brasileiro, partilhar é fácil. Ele se dá pro outro e não acha nada estranho abraçar com força o seu novo amigo. O conforto da sua própria pele é a sua melhor proteção para situações inesperadas e o brasileiro de verdade vai se sair de qualquer situação difícil com honra e com a experiência de mais uma lição aprendida. Ele não sente auto-piedade mesmo morando em espaços apertados e estando sem dinheiro. O que permite que ele pense num dia melhor frente às adversidades é o fator Brasil, essa essência que está sendo buscada com tanto zelo. Esse lugar que é sinônimo de paraíso existe e esta sendo descoberto. Ao contrario de tantas decepções mundiais num mundo marcado por guerras e bedbugs, surge o Brasil e os brasileiros. Ah, que prazer segurar o passaporte verde na fila do aeroporto; que honra entender as letras do Roberto Carlos! As cores das sandálias Havaianas seguem decorando as vitrines da Gap e estão sempre em falta, as que têm a bandeirinha então sai das prateleiras como pão quente. As patricinhas nova-iorquinas relaxam na grama do Central Park com suas cangas estiradas com o desenho do calçadão de Copacabana e o show do Ivan Lins no Blue Note anda concorrido, assim como o festival de cinema brasileiro nos cinemas do Tribeca. Todos querem um pedacinho desse lugar, alias todos querem um pouco da experiência de um lugar que agora não parece mais tão remoto. Chego a desconfiar que em pouco tempo ter estado de espírito brasileiro será mais valioso do que ter o tal green card.

Márcia Honigsztejn

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